Sorriso

Matheus Tavares
Por Matheus Tavares em
poema
Sorriso

Encontrei a menina com a cabeça inclinada, lançando sorrisos para o alto. Ela abria os lábios amplamente e exibia duas perfeitas fileiras de brilhantes. Em seguida fechava de prontidão e, cerrando os olhos, analisava cuidadosamente. Observava de um lado, depois do outro. Fechava um olho. Virava a cabeça. E em seguida sorria novamente, repetindo o processo.

“Quem é o destinatário destes sorrisos tão belos?” - questionei a menina.

Ela não se importou muito com minha pergunta (nem sequer com minha presença) e continuou sua atividade. Fechou os lábios ainda fitando o céu por mais alguns instantes, coçou as bochechas, e então decidiu me responder alegremente: “É para o céu!”

“Para o céu?” - perguntei.
“Sim, para o céu.” Ela respondeu voltando a sorrir.

Não sou uma pessoa particularmente curiosa, mas naquele momento não resisti e tive de interromper minha misteriosa interlocutora mirim novamente: “Posso lhe perguntar porque você sorri para o céu, menininha?”

Desta vez ela respondeu prontamente: “Na verdade, foi ele quem começou. Eu só queria devolver a gentileza. Veja!”. E ela apontou para o meio da escura imensidão.

O céu estava estrelado. Um verdadeiro tecido negro tomado por pequenos pontos brilhantes que pareciam flutuar alegremente no escuro mar. Lá no meio deste oceano de estrelas, uma luz mais forte, bem na direção em que o pequenino dedo apontava. Era uma meia lua perfeita, branca como os dentes da menina, formando uma linda boca a sorrir no céu.

” Viu?!” - Ela disse - “Olha ali o sorriso do céu. E já faz muito tempo que ele está aí parado sorrindo.”
“Sim” - Eu respondi sorrindo também - “Agora eu vejo.”

Ela soltou uma pequena risada, como se achando engraçado a minha lentidão para perceber o óbvio, e então voltou a contemplar seu admirado satélite.

“Quantos anos você tem, meu anjo?” - perguntei, encerrandoa a conversa.
“Seis” - ela sussurrou sem tirar os olhos do alto, confirmando que não queria mais ser interrompida em sua importante atividade.

Seis anos… Gastamos horas e horas de nossos dias fechados em escritórios, preocupados com atribulações que nós mesmos criamos; ansiamos a chegada da noite para um descanso, e quando ela vem, nem sequer olhamos para o céu… Aquela menina, com seus seis longos anos de experiência, já conseguia perceber que o céu sorri para ela. E mais: conseguia sorrir de volta. Será que também não deveríamos nos preocupar menos, admirar mais os céus, e lançar um sorriso ou outro por ai?

Matheus Tavares

Matheus Tavares

Olá! Sou um desenvolvedor de software, cristão, esquecido crônico, metódico em desconstrução (ou pelo menos tentando), amante da natureza e, principalmente, de estar com pessoas. Gosto de esportes, caminhar, sair, e escrever. Esse blog é meu pequeno caderno de anotações pessoais. Coisas que gostaria de lembrar.

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