Fé e boas obras
Resumo do sermão https://www.youtube.com/watch?v=dPzRvaHtUa8, de Luiz Sayão.
Os ricos
Sayão começa lendo 1 Timóteo 6:17-19:
Ordene aos que são ricos no presente mundo que não sejam arrogantes, nem ponham sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus, que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação. Ordene-lhes que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos para repartir. Dessa forma, eles acumularão um tesouro para si mesmos, um firme fundamento para a era que há de vir, e assim alcançarão a verdadeira vida.
Na comunidade de fé existe diversidade, inclusive de bens materiais. Paulo não rejeita os ricos nem a satisfação no bem material. Mas pede que nós lembremos que tudo é provisão de Deus, e que devemos usar os bens com sabedoria abençoando os demais. Além disso, não devemos depositar nossa esperança no material, pois a riqueza é passageira, é assim como veio, pode ir.
Fé e Obras
Ao ler esse texto de Timóteo, Sayão foca na ordenança para que os ricos se tornem ricos também em boas obras, sendo generosos. A pergunta que fica então é: “Por que fazer isso? Para receber algo em troca de Deus?” Claramente não. Efésios 2:6-10 diz:
Deus nos ressuscitou com Cristo e com ele nos assentou nas regiões celestiais em Cristo Jesus, para mostrar, nas eras por vir, a incomparável riqueza da sua graça, demonstrada na sua bondade para conosco em Cristo Jesus. Pois pela graça vocês são salvos, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie. Porque fomos feitos por Deus, criados em Cristo Jesus, para boas obras, as quais Deus preparou previamente para que andássemos nelas.
A ideia não é fazer para receber, mas fazer porque eu já recebi. É uma resposta, não uma barganha. A Palavra diz que a fé sem obras é morta. Porque a fé cristã não é algo meramente contemplativo.
E o que são as boas obras? Elas estão ligadas com as leis do antigo testamento. As 613 ordenanças, que se mostram nos chamados 10 mandamentos que, por sua vez, se resumem em torno de dois princípios principais: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Intenção por trás da ação
Ao falar das Leis, surgem duas questões: entender o que é pedido; e como fazer o que é pedido. Muitas discussões surgiram desse segundo ponto. Mas é interessante como o ponto de referência maior é a intenção com que se faz qualquer coisa ligada à Lei. Jesus mesmo questiona muitos religiosos de seu tempo que até fazem o que a Lei diz, mas com a intenção completamente errada! Como aqueles fariseus que davam esmolas aos pobres, mas tocavam trombetas para que todos vissem isso. Para se autopromover.
Isso é muito importante! Porque fazemos as boas obras? Para se autopromover? Por uma consciência ferida que quer se sentir melhor? Ou por amor e obediência ao Pai?
A Lei e Jesus
“Mas esse negócio da Lei não ficou ultrapassado? Tudo não se fez novo com Jesus?”
Esse é um questionamento comum entre religiosos. Mas ao ler direitinho o Novo Testamento vemos que não é bem assim. Nesse sentido Sayão traz os seguintes pontos:
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A Lei não foi dada com o propósito de justificar ou salvar. Ela não é como um remédio, mas como uma “ressonância” ou uma “ultrassonografia” para avaliar o organismo. Olhamos para a Lei e vemos a perfeita ordenança de Deus, isso nos mostra o que há de errado em nós. Ela é um parâmetro que mostra nossa incapacidade.
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Existem diversos tipos de mandamentos: sociais, cerimoniais, teológicos, morais, etc. Ao lermos o Novo Testamento vemos que os gentios que receberam a fé em Cristo jamais foram convocados para cumprir as leis cerimoniais (como circuncisão, sacrifícios, lavagens cerimoniais, etc.)
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Alguns mandamentos cerimoniais foram plenamente cumpridos em Cristo. Vide por exemplo o sacrifício.
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Nós estamos debaixo da Graça, não da Lei. Em que sentido?
a. Há várias leis de sentido jurídico para o Israel antigo que não fazem sentido serem aplicadas em uma forma de governo nos dias de hoje.
b. Nós não estamos mais debaixo da condenação que a Lei traz, porque Cristo pagou o preço.
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A Lei é dada como uma graça para o povo do antigo testamento. O povo é liberto do Egito não por sua obediência, mas pela graça de Deus. Então a Lei é dada como uma forma do homem poder se aproximar de Deus para cultuá-lo.
Muitos pensam que a Lei foi uma coisa e Jesus veio trazer outra. Como se o Deus do antigo testamento fosse cruel, dando leis difíceis, mas tivesse “se arrependido” e então trouxe graça através de Jesus. Essa ideia é muito estranha à imagem que temos de um Deus bondoso, amoroso, e que tudo sabe, portanto não é inconstante, mudando conforme as circunstâncias.
“Mas Jesus não diz no sermão do monte ‘Vocês ouviram o que foi dito, no entanto eu digo…’?” Sim, mas isso não é uma contraposição à Lei! O que Jesus está contrapondo é o ensino da tradição dos antigos. Por exemplo, Ele fala sobre o que foi dito de “amar o próximo e odiar os inimigos”, mas isso não é dito na Lei! Portanto, Jesus está alinhado com Moisés. Ele mesmo diz que não veio abolir a Lei, e que ninguém deve desobedecê-la.
Em resumo, Deus deu a Lei por graça. Como uma forma de:
- Mostrar ao ser humano a sua falha;
- Conter a maldade humana;
- Promover meios do homem se aproximar de Deus.
Ainda que não seja totalmente capaz de cumprir todos esses objetivos, não porque a Lei é falha, mas porque nós o somos. Mas graças a Deus por Jesus, que veio cumpri-lá por completo!
Como obedecer a Lei?
Já falamos que por nós mesmos isso é impossível! Mas por isso Deus nos enviou o Espírito Santo. É uma nova aliança. Antes, a Lei foi escrita em tábuas de pedra, agora ela foi escrita em “tábuas de carne”, no coração e na mente.
Veja, muitos maus advogados conhecem bem as leis e a usam para torcer a verdade e tirar vantagem. Então muitos afastados de Deus usaram a Lei com a pior intenção possível. Se a mudança não vier de dentro, não adianta a coação que vem de fora. Por isso Jesus diz que esses novos convertidos que receberam pela graça vão ter uma justiça superior aos mestres da lei, que obedeciam por religiosidade mas não de coração.
Isso pode ser visto em todos os tempos, até nos dias de hoje. Quem é “coagido” por fora, tem uma atitude do tipo “Até onde eu posso cumprir sem interferir na minha vida?” Enquanto quem é convertido por dentro, se entrega como os Moravianos, que até se tornaram escravos para poder proclamar o Evangelho.
Os “tipos” de fé
Que tipo de atitude o Espírito Santo traz?
- Muitos olham o Cristianismo de forma pensativa/contemplativa e não passam disso.
- Outros consideram o legalismo, que é a atenção desnecessária a coisas secundárias e com menor importância, como uma forma de vida com Deus.
- Para outros a Fé é apenas um exercício de filosofia abstrata.
A atitude que o Espírito Santo traz é de uma fé viva, que se manifesta em obras que transbordam o amor de Deus. É uma fé que nos leva a amar na prática. Usar os dons que Deus nos deu para frutificar. E o tempo é hoje. Uma espiritualidade que não é traduzida em serviço é duvidosa.
Sem isso, caímos numa espiritualidade doente e enganadora:
- Dominada pelo medo
- Paralisante
- Egocentrica
- Incoerente
- Estéril
- Negativa
Por fim, lembremo-nos: o amor é o cumprimento da Lei. E servir não é tristeza ou comiseração, pois o Reino de Deus é alegria exuberante e vitoriosa.
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