A Bíblia é confiável?

Matheus Tavares
Por Matheus Tavares em
A Bíblia é confiável?

A Bíblia é composta por 66 livros, escritos por 40 homens (que na maior parte não se conheciam) em três línguas diferentes (Aramaico, Hebraico e Grego), durante um período que compreendeu mais de 1500 anos. Apesar disso, trata-se de um texto extremamente coeso e com mais de 60 mil referências cruzadas!1 Mesmo para um não cristão, vale muito a pena conhecer melhor esse documento e a história nele relatada.

“E quanto a discrepâncias?” você pode perguntar. “Somente é um erro se não houver maneira concebível na qual os versos ou passagens possam ser reconciliados.”2 E ainda que algumas passagens possam parecer contraditórias, uma análise mais profunda revela a compatibilidade dos diversos textos. Nesse sentido, é sempre muito importante salientar a importância de buscar entender os textos bíblicos com o contexto e intenção para os quais eles foram escritos. Não podemos extrair versículos isoladamente, fazer alegorias que não existem no contexto original, ou buscar outros significados que não o pretendido pelo texto.

Inicialmente, deixemos de lado a perspectiva espiritual para analisar a confiabilidade das escrituras usando os mesmos critérios que aplicamos a qualquer outro documento histórico. Para isso, vamos focar no aspecto central da Bíblia, que é o Messias ou Cristo: a pessoa de Jesus. Além disso, focaremos no Novo Testamento (mas note que, para os Cristãos, ambos o Antigo e Novo Testamentos tem igual importância e relevância como palavra de Deus). O que aqui está escrito foi grandemente baseado na obra “Mais que um Carpinteiro”, de Josh McDowell e Sean McDowell, a qual recomendo MUITO para quem quiser ler mais sobre o assunto.

Quantidade de manuscritos

Há mais provas para corroborar a confiabilidade do Novo Testamento do que todas as outras peças de literatura clássica juntas. Primeiramente, já que não temos os documentos originais, precisamos nos questionar: quão confiáveis são as cópias que possuímos? Vamos comparar com outros textos antigos de renome:

  • História de Tucídides: escrita originalmente entre 460-400 a.C., disponível em 8 manuscritos datados em 900 d.C (1300 anos depois).

  • Poética de Aristóteles: escrita em 343 a.C., mas a cópia mais antiga que temos é de 1100 d.C. (1400 anos depois). Existem 49 manuscritos.

  • A história das guerras gaulesas, de César, foi escrita entre 58 e 50 a.C., mas temos apenas 9 ou 10 cópias datadas em mil anos após sua morte.

  • A famosa Ilíada de Homero tem um pouco mais: 643 manuscritos.

E podemos citar outros em situação semelhante aos já mencionados, como textos de Tácito, Heródoto, etc.

Já do Novo Testamento, foram encontradas mais de 5 mil cópias de manuscritos na língua original e 20 mil contando outras línguas, até 2009! Isso é muito mais do que qualquer outro livro escrito na antiguidade.

Data da escrita

O período entre um acontecimento e a documentação dos eventos é crítico. Se for demasiado longo, pode haver alterações dos fatos em um processo de folclorização (lendas, contos, etc.). Mas sendo curto, as próprias testemunhas oculares dos eventos ainda estão vivas e podem apontar falhas e exageros nos relatos. Os textos do Novo Testamento provavelmente foram escritos até o ano 80 d.C3. Isto é, dentro de 20 a 50 anos após o ministério de Jesus. Isso é muito pouco para que tenha havido corrupção significativa de suas palavras e ensinos. Ainda mais quando consideramos o fato de que, na cultura Judaica da época, era importante para os discípulos preservarem as palavras de seus mestres com todo cuidado (Jesus e muitos de seus discípulos eram judeus).

E quanto aos outros 20 evangelhos encontrados fora da Bíblia? Enquanto os 4 evangelhos bíblicos são datados do primeiro século, os demais foram provavelmente escritos entre 120 d.C. e 250 d.C., três gerações após a vinda de Cristo. Este é um dos motivos que diminuem a confiabilidade e relevância destes outros textos não-bíblicos para os cristãos.

Autores

Os relatos do Novo Testamento vêm de pessoas que estiveram próximas de Jesus e/ou de seus apóstolos. A qualidade dos textos também é muito relevante. Lucas inclusive é descrito da seguinte forma: “erudito, eloquente, sua linguagem grega se aproxima da clássica, escreve como homem culto, e as descobertas arqueológicas demonstram repetidamente que Lucas estava certo naquilo que tinha a dizer.”4

E não poderiam estes autores estarem mentindo? Bem, seria pouco provável que as MUITAS demais testemunhas oculares da época não contestassem os relatos deles, impedindo que as tais “mentiras” se propagassem tão avidamente. Especialmente numa época sem internet, globalização, e meios de divulgação em massa/instantânea. Mas além disso, temos que lembrar que os discípulos de Jesus aceitaram morrer pelo que defendiam, em alguns dos métodos mais crueis conhecidos até então:

  • Simão Pedro foi crucificado.
  • André foi crucificado.
  • Tiago, filho de Zebedeu, morto à espada.
  • Filipe foi crucificado.
  • Bartolomeu foi crucificado.
  • Tomé foi morto por lança.
  • Mateus foi morto à espada.
  • Tiago, filho de Alfeu, foi crucificado.
  • Tadeu morreu por flechas.
  • Simão, o zelote, foi crucificado.

Eles estavam dispostos a sofrer pelo que criam, e de forma extremamente dolorosa. Lembre-se de estes não eram homens originalmente corajosos: muitos eram simples pescadores; Mateus um coletor de impostos (cargo extremamente mal visto pelo seu próprio povo). No momento da crucificação de Jesus, todos o abandonaram. Pedro o negou 3 vezes. Tomé disse que só acreditaria que ele ressuscitou se tocasse nas feridas com suas próprias mãos. Essa transformação na atitude e caráter dos discípulos, de covardia à coragem e ousadia até a morte, torna altamente implausível que tudo fosse uma fraude destes homens.

É também igualmente difícil crer que tão grande grupo de pessoas teria sido enganada por outros, especialmente pensando em qual propósito alguém poderia tirar de tudo isso. (Lembre-se de que as pregações de Jesus não eram favoráveis nem para o governo Romano, nem para a liderança farisáica dos Judeus.)

Conclusão

Pensando na quantidade de cópias dos manuscritos e o intervalo entre a data dos acontecimentos e os relatos, “temos um texto muito melhor e mais confiável no Novo Testamento do que qualquer outra obra da Antiguidade.”5 Craig Bloomberg, ex-pesquisador da Universidade de Cambridge conclui que “de 97% a 99% do Novo Testamento podem ser reconstruídos se, deixar qualquer sombra de dúvidas.”6

“E quanto às variâncias entre os manuscritos encontrados?” você pode perguntar. Elas existem! Mas a grande maioria delas são de ortografia (como João ser grafado como Johaon) ou sinônimos como o uso de “Senhor” ou “ele”, onde outros textos usam o nome próprio do Senhor. Nenhuma destas tais divergencias coloca em jogo o significado do texto. Para além delas, temos que apenas 1% das variâncias envolve o significado textual, e mesmo essa pequena quantidade não é suficiente para trazer dúvidas quanto à mensagem central dos textos ou às verdades teológicas apresentadas.

Notas de rodapé

  1. https://www.gotquestions.org/Portugues/erros-biblicos.html 

  2. https://labvis.eba.ufrj.br/2649/ 

  3. Albright, William F., Recent Discoveries in Bible Lands e Cristianity Today. 

  4. McRay, John, citado por Strobel Lee. The case for Christ. 

  5. Neill, Stephen. The Interpretation of the New Testament. 

  6. Bloomberg, Craig L. The Historical Reliability of the New Testament. 

Matheus Tavares

Matheus Tavares

Olá! Sou um desenvolvedor de software, cristão, esquecido crônico, metódico em desconstrução (ou pelo menos tentando), amante da natureza e, principalmente, de estar com pessoas. Gosto de esportes, caminhar, sair, e escrever. Esse blog é meu pequeno caderno de anotações pessoais. Coisas que gostaria de lembrar.

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